terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Charles Darwin, um psicótico? Um estudo de sua saúde mental

Dr. Jerry Bergman (Ph.D. em Biologia, professor e pesquisador da Faculdade de Biologia da Universidade Estadual de Northwest em Ohio. Artigo publicado no boletim Acts & Facts do Institute for Creation Research, em sua edição de janeiro de 2004, com o título "Was Charles Darwin Psycothic? A Study of His Mental Health". Tradução do texto de Daniel Ruy Pereira. Texto original: http://www.impacto.org.br/c04002.htm)

INTRODUÇÃO
Muitas das doenças graves e vitalícias de Darwin têm sido tema de grande especulação e estudo por mais de um século. Darwin disse que seus problemas de saúde começaram já no ano 1825 quando ele só tinha seis anos de idade, e o incapacitaram por volta dos 28 anos (Barloon e Noyes, 1997, p. 138). Horan (1979, p. ix) concluiu que Darwin era “doente e, recluso, ficou confinado à sua casa em Kent por quarenta anos”. Mesmo o estudioso darwiniano Michael Ruse concluiu que “Darwin por si mesmo era um inválido a partir dos 30 anos”. (2003, p. 1523). E o médico George Pickering, num vasto estudo da doença de Darwin, concluiu que no início dos seus trinta anos, Darwin se tornou um “recluso inválido” (1974, p. 34). O professor da Escola de Medicina UCLA, Dr. Robert Pasnau (1990, p. 123), notou que Darwin também “permaneceu doente quase continuamente” pelos cinco anos inteiros que ele esteve na sua viagem com o HMS Beagle.

Dúzias de artigos escolares e pelo menos três livros têm se prendido na questão da doença de Darwin. A conclusão atual é de que Darwin sofreu de várias desordens psiquiátricas sérias e obstrutoras, incluindo ágorafobia. A ágorafobia é caracterizada por medo de ataques de pânico (ou atuais ataques de pânico) quando não em um ambiente psicologicamente seguro, tal como a casa do indivíduo. Darwin, como traço geral entre os ágorafóbicos, também desenvolveu muitas fobias adicionais - estando em multidões, estando sozinho, ou não saindo de casa a menos que estivesse acompanhado por sua esposa (Kaplan e Sadock, 1990, pp. 958-959).
A ágorafobia é também freqüentemente associada com despersonalização (um sentimento de estar separado de todos, com exceção da própria pessoa), uma enfermidade da qual Darwin também sofreu (Barloon e Noyes, 1997, p. 138). Um estudo da condição mental de Darwin por Barloon e Noyes concluiu que Darwin sofreu de desordens de ansiedade tão graves que prejudicaram suas atividades, limitando sua habilidade de sair de casa, mesmo se somente para encontrar com colegas ou outros amigos. Este diagnóstico provavelmente explica seu excessivo isolamento, e estilo de vida eremita (1997, p. 138). Também ajuda a explicar o título da biografia de Darwin, de Desmond e Moore, 1991: Darwin: A vida de um evolucionista atormentado.

OUTROS PROBLEMAS PSIQUIÁTRICOS E MÉDICOS
Colp (1977, p. 97) concluiu que “muito da vida diária de Darwin foi vivida em um gabinete que consistiu de intensidades flutuantes de dor” que eram algumas vezes tão severas que Darwin as chamou de “dolorosamente grandes”. Muitos sintomas influenciaram psicológica ou psicologicamente a saúde física de Darwin incluindo depressão grave, insônia, choro histérico, sensações de morte, agitação, desmaios, contrações musculares, perda de fôlego, tremor, náusea, vômito, ansiedade grave, despersonalização, visão borrada, pisos em falso e visões, e outras alucinações visuais (Barloon e Noyes, 1997, p. 139; Picover, 1998, p. 290; Colp, 1977, p. 97; Bean, 1978, 573). Os sintomas físicos incluíram dores de cabeça, palpitações cardíacas, zumbido no ouvido (possivelmente tinnitus), flatulência dolorosa, e distúrbios gástricos - todos os quais comumente têm origem psicológica (Pasnau, 1990). Colp notou que “por trás desses sintomas havia sempre um centro de ansiedade e depressão” (1977, p. 97). Alguns especulam que parte dos problemas mental de Darwin era devido a seu medo contínuo, corrosivo, de que ele devotara sua “vida a uma fantasia” - e a um “alguém perigoso” naquilo (Desmond e Moore, 1991, p. 477). Este medo era de que sua teoria fosse falsa e houvesse, de fato, um Criador divino.
O comportamento de Darwin também indica que ele sofreu de desordem mental. Embora devotado à sua esposa e filhas, ele “as tratava como crianças” mesmo depois de suas filhas terem crescido (Picover, 1998, p. 289). Muitas das declarações de Darwin a outros também lançavam dúvidas sobre sua estabilidade mental. Por exemplo, em 1875 ele escreveu as seguintes palavras ao seu colega cientista Robert Hooker:
“Você pergunta sobre o meu livro, e tudo o que eu posso dizer é que eu estou pronto para cometer suicídio: eu pensei que estava escrito razoavelmente, mas acho que muito precisa ser reescrito... Eu começo a pensar que qualquer um que publica um livro é um tolo” (apud Colp, 1977, p. 228). Colp notou que o filho de Darwin, Leonard, afirmou que mesmo a doença de seu pai interferiu em seus sentimentos pelos seus filhos.

Por exemplo, Leonard uma vez notou que:
“Quando jovem, eu fui ao meu pai embora errante pelo gramado, e ele... se virou como se fosse completamente incapaz de continuar qualquer conversa. Em seguida ele inesperadamente lançou direto em minha mente a convicção que ele desejava não viver mais” (apud Colp, 1977, p. 100).
Os problemas mentais de Darwin foram considerados tão graves que Picover (1998, p. 289) incluiu Darwin em sua coleção de personalidades históricas que ele chama de “cérebros estranhos, cientistas excêntricos e homens loucos”. O fato de Darwin ter sofrido de várias enfermidades obstrutoras não se discute; o único debate é a causa delas (Pasnau, 1990, p. 121).

OUTRAS POSSÍVEIS CAUSAS DA CONDIÇÃO DE DARWIN
Outros, incluindo a própria esposa de Darwin, defenderam que seu problema mental originou-se da culpa provinda de seu objetivo de vida em refutar o argumento em prol do Deus do projeto (Bean, 1978, p. 574; p. 28; Pasnau, 1990, p. 126). Muitos dos estudos psicanalíticos têm defendido que seus problemas foram resultado de sua raiva reprimida sobre seu pai tirano e “o assassinato de seu pai celestial” por sua teoria (Pasnau, 1990, p. 122).
Diagnoses da causa das desordens mentais e físicas de Darwin incluem doença de Chagas, envenenamento por arsênico e possivelmente uma desordem no ouvido interno (Picover, 1998, p. 290; Pasnau, 1990). Todas essas causas têm sido largamente refutadas. Muitas pessoas concluem que foi uma perturbação mental básica clássica, beirando a psicose (uma incapacidade de desordem mental grave). Indiferente ao diagnóstico, a condição de Darwin foi claramente obstrutora, freqüentemente por meses seguidos, e lhe rendeu uma invalidade por muito tempo de sua vida, especialmente no seu auge.
Arnold Sorsby concluiu que Darwin também foi um obsessivo-compulsivo e dá a seguinte evidência:
“Se a doença de Chagas não causou os sintomas de Darwin, o que causou? Meu diagnóstico pessoal seria um estado de angústia com traços obsessivos e manifestações psicossomáticas. A angústia claramente apressou muitos de seus problemas físicos, e com respeito ao componente obsessivo há vários pontos importantes... Darwin exibiu o traço de obsessão de ter em qualquer coisa ‘certamente’; ele manteve registros meticulosos de sua saúde e sintomas como muitos hipocondríacos obsessivos. Tudo tinha que estar em seu lugar; ele mesmo teve uma atração especial pela esponja que ele usava no banho... Também há um diário de saúde que ele manteve. Dias e noites tinham dadas anotações de quão bom ele estava; a nota era aderida ao fim de cada semana, e há evidência de freqüente mudança de opinião em decidir se em uma noite estava muito bom ou quase bom” (1974, p. 228).

AS PRÓPRIAS PALAVRAS DE DARWIN ACERCA DE SUA CONDIÇÃO

Em adição ao diário sobre seus problemas de saúde e reclamações (Colp, 1977, p. 136), ele freqüentemente questionou seus problemas de saúde em suas cartas e sua autobiografia. A descrição do próprio Darwin de sua condição inclui o seguinte: “Eu sou forçado a viver,... muito quietamente, mal sou capaz de ver qualquer um e não posso mesmo discorrer com meus parentes mais próximos” (apud Bowlby, 1990, p. 240). Darwin uma vez se queixou de falar por somente “uns poucos minutos” à Linnean Society “levado ao vômito por 24 horas” (Darwin, 1994, pp. 98-99). Em outra ocasião, Darwin teve uma “casa cheia de convidados” e depois de visitar a paróquia da igreja para um batismo, ele “voltou a decair” e sua boa saúde “desapareceu como um relâmpago”, e a doença (incluindo o vômito) voltou (Desmond e Moore, 1991, p. 456). A rapidez de sua doença, como ilustrada por esses incidentes, indica que seus episódios obstrutores foram psicológicos na origem.
Outro lado de Darwin revela seus impulsos sádicos. Suas próprias palavras retiradas de sua autobiografia dão um exemplo vívido:
“Na última parte de minha vida escolar eu me encontrei apaixonadamente na caça, e não creio que qualquer um pudesse ter mostrado mais zelo pela causa mais santa que eu por caçar pássaros. Como me lembro bem de matar a minha primeira narceja, e minha excitação foi tão grande que tive muita dificuldade em recarregar minha arma por causa do tremor de minhas mãos. Esse sabor continuou por muito tempo e eu me tornei um caçador muito bom” (1958, p. 44).
O fato de ele ter amado tanto caçar que matar seu primeiro pássaro causou nele um estremecimento de excitação poderia certamente indicar um vestígio de sadismo em Darwin. Sua paixão por matar pássaros é bem conhecida. Alguém se maravilha se sua “paixão” por matar pode ter, em parte, motivado sua implacável teoria da seleção natural da “sobrevivência do mais apto” por unhas e dentes.

CONCLUSÃO
Darwin foi claramente um homem muito problemático e sofreu de graves problemas emocionais por grande parte de sua vida adulta, especialmente quando esteve no auge da vida. A causa exata de seus muitos problemas mentais e físicos tem sido muito debatida e pode nunca ser conhecida com certeza. Visto que Darwin escreveu extensivamente sobre seus problemas mentais e físicos, nós temos muitos materiais sobre os quais baseamos uma conclusão razoável sobre esta área de sua vida. O diagnóstico da causa de seus problemas mentais e físicos inclui uma variedade de condições debilitadoras, mas ágorafobia com a adição de psiconeurose é provavelmente mais correta.
Infelizmente, muitos escritores têm se esquivado deste tópico, em parte porque Darwin é agora idolatrado. Muitas vezes registrado como um dos maiores cientistas do século XIX, senão o maior cientista que já viveu, Darwin é um dos poucos cientistas conhecido pela maioria dos americanos. Para entender Darwin como uma pessoa e suas motivações, alguém deve considerar sua condição mental e como isso afetou seu trabalho e suas conclusões.


REFERÊNCIAS
BARLOON, Thomas; NOYES Jr., Russell. Charles Darwin and Panic Disorder. JAMA 277 (2): 138-141, 1997.
BARLOW, Nora (ed.). The autobiography of Charles Darwin 1809-1882. Nova York: Norton, 1958.
BEAN, W. B. The illness of Charles Darwin. The American Journal of Medicine. 65 (4): 572-574, 1978.
BOWLBY, John. Charles Darwin: a new life. Nova York: Norton, 1990.
COLP, Ralph Jr. To be an invalid: the illness of Charles Darwin. Chicago, IL: University of Chicago, 1977.
DARWIN, Charles. The correspondence of Charles Darwin. v. 9. Cambridge, England: Cambridge University, 1994.
DESMOND, Adrian; MOORE, James. Darwin: the life of a tormented evolutionist. Nova York: Warner Books, 1991.
GRIGG, Russell. Darwin mystery illness. Cration Ex Nihilo. 17 (4): 28-30, 1995.
HORAN, Patricia G. Foreword to The Origin of Species. Nova York: Gramercy Books, 1979.
KAPLAN, Harold I.; SADOCK, Benjamin J. (Ed.). Comprehensive textbook of psychiatry/ V Volume 1. 5. ed. Nova York: Williams and Wilkins, 1990.
PASNAU, R.O. Darwin's illness: a biopsychosocial perspective. Psychosomatics 31 (2): 121-128, 1990.
PICKERING, George. Creative Malady. Nova York: Oxford University Press, 1974.
PICOVER, Clifford A. Strange brains and genius: the secret lives of eccentric scientists and madmen. Nova York: Quill William Morrow, 1998.
RUSE, Michael. Is evolution a secular religion? Science 299: 1523-1524, 2003.
SORSBY, Arnold (Ed.). Tenements of clay. Nova York: Charles Scribner's Sons, 1974.