segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sarah Palin renuncia ao governo do Alasca de olho na presidência americana

ANCHORAGE, EUA — A ex-candidata à vice-presidência americana, Sarah Palin, renunciou na noite de domingo 26 de julho de 2009 ao seu cargo de governadora do estado do Alasca, preparando seu lançamento como candidata à presidência. Ela fez questão de listar os êxitos realizados durante sua administração:
"É porque amo tanto o Alasca, que sinto que é meu dever evitar a fase improdutiva, tão típica da política americana, do último ano de governo", afirmou Palin, que foi a governadora mais jovem do Alasca e a primeira mulher a ocupar esse cargo. "Com esta decisão, estarei em condições de lutar mais duramente por vocês, pelo que é correto e pelo que é verdadeiro. Jamais acreditei que precisava de um cargo para fazer isso", afirmou Palin a uma multidão em um piquenique, durante o qual entregou o cargo ao vice-governador, Sean Parnell.
Mas seu último discurso em Fairbanks, Alasca, menos de um mês depois de anunciar abrutamente sua renúncia em 3 de julho, proporcionou poucas pistas sobre seus planos futuros.
Segundo uma pesquisa do Washington Post-ABC News, 53% dos americanos tinham uma opinião negativa de Palin e 40% positiva, seu pior índice desde a campanha de 2008, quando foi apresentada como candidata a vice na chapa de John McCain. (Agência AFP; http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5gpvIP-Bk3dCEMbHJ9BKk1q6VascQ)
Sarah Palin e o fundamentalismo cristão - Sarah Palin, depois de escolhida vice-presidente na chapa de John McCain, atingiu quase imediatamente o índice de 58% da simpatia dos eleitores, segundo sondagem da Rasmussen Reports; índices comparáveis aos de uma super estrela do rock, superiores na época aos de McCain ou do democrata Obama. A máquina republicana (que fez todo mundo acreditar que Sadam Hussein era o novo Hitler), obviamente estava por trás de um dos esforços de propaganda mais impressionantes da história recente - apresentar Sarah Palin como a candidata sonhada pelos EUA. Mas como Palin foi deliberadamente vaga sobre suas origens religiosas, num país onde isto é um fator relevante para qualquer candidato, vale a pena dar uma olhada sobre este assunto.
Uma das transformações mais significativas da política interna dos EUA, desde quando George Bush “pai” era chefe da CIA, foi a manipulação deliberada de importantes segmentos da população em torno da ideologia fundamentalista cristã-evangélica, para criar o que é conhecido como a Direita Cristã. No amplo espectro das denominações evangélicas há algumas correntes que são particularmente interessantes. O pentecostalismo norte-americano chegou a ser tão influente politicamente que as duas eleições de George Bush “filho”, tal como inúmeras disputas para o Senado ou o Congresso, passaram a depender do apoio, ou não, dessa Direita Religiosa. E o aparecimento de novos grupos dentro da Direita Cristã também convenceu o americano comum literalmente a “morrer por Cristo” em lugares como Iraque, Afeganistão, Irã ou onde quer que o Pentágono solicite seus serviços. Essa ideologia criou internamente uma base ativista republicana e uma política externa que vê os opositores dos EUA como “o eixo do mal” ou “encarnações de Satã”. Neste contexto, onde se encaixa Sarah Palin?
Comitê de Política Nacional: a manipulação da religião com fins políticos - Muitos dos grupos evangélicos dos EUA são coordenados por uma organização secreta chamada Comitê de Política Nacional (CNP), criada em começos dos anos 1980, durante a era Reagan, e é uma organização estranha e bastante poderosa. Foi descrito por Marc J. Ambinder da rede ABC como a “versão conservadora do Conselho de Relações Externas”. Entre os membros do CNP estão, além de figurões da política, empresários, milionários e militares de alta patente, pastores como Pat Robertson da Christian Broadcasting Network, Jerry Falwell e Tim LaHaye, além de outros luminares evangélicos.
Ted Haggard foi membro do CNP até que um escândalo de sexo e drogas o obrigou a se retirar, em fins de 2006. Era pastor da Igreja da Nova Vida em Colorado Springs, descrita como “o Vaticano evangélico”, e foi chefe da Associação Nacional de Evangélicos.
A Igreja da Unificação, cujo fundador, rev. Moon, diz abertamente que é superior a Cristo, também é membro do CNP; de acordo com algumas informações, também a Igreja de Cientologia, entidade que congrega alguns atores e atrizes famosos de Hollywood, como Tom Cruise e Kirstie Alley [1].
Investigadores descrevem assim o CNP: “Parece ser uma criação do Poder político para mobilizar cristãos bem intencionados a apoiarem, sem saber, os interesses da elite. Pode ser considerado um projeto de engenharia religiosa que esvazia o cristianismo e reorienta muitos dos seus princípios e conceitos, segundo objetivos social e politicamente convenientes à elite. Essas afirmações são apoiadas pelo fato de muitos membros do CNP serem igualmente membros de outras organizações e/ou empresas com ligações até mesmo no mundo do crime, que estão diretamente ligados à elite do poder” [2].
O CNP é um elo vital entre fornecedores da defesa, a Direita Cristã e lobistas de Washington. Está envolvido na política militarista, no apoio ao programa de guerra global do Pentágono e no controle político neo-conservador de grande parte da política externa e de defesa dos EUA. Dezenas de importantes republicanos do governo Bush são, ou foram, membros do CNP, mas são poucos os detalhes que passam para o público. Tão secreto como o Grupo Bilderberger, ou mais, o CNP está no centro da manipulação política, mas não faz declarações à imprensa, reúne-se secretamente e nunca revela voluntariamente os nomes dos seus membros. Durante a presidência de Bush, os círculos de elite urdiram uma máquina política extremamente poderosa utilizando forças e energias da Direita Cristã e de milhões de cristãos americanos que ignoram as suas obscuras manipulações.
Sarah Palin, nessa foto bastante emblemática - nunca devidamente esclarecida, se é real ou se é montagem "de photoshop"- como a maioria dos chamados americanos "médios" apóia as ideias imperialistas de invasão a outros países "do mal", é a favor do comércio de armas, etc, etc... Afinal, faria Sarah Palin parte dessa engrenagem sinistra? Na próxima semana veremos.

Notas:
[1] Paul Collins & Phillip Collins, The Deep Politics of God: The CNP, Dominionism, and the Ted Haggard Scandal, 19 de Fev de 2007.
[2] Ibíd.