quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sarah Palin e o dominionismo


Retomando: Será que Sarah Palin faria parte de tal estrutura maquiavélica? E se fizer, o que nós, cristãos brasileiros, temos a ver com isso? É o que veremos.
Ao que parece, Sarah Palin foi uma escolha cuidadosamente pensada, já que ela provém de círculos evangélicos conservadores que o CNP utiliza para mobilizar e pressionar a agenda política dos EUA. Diz-se que Palin cedo atraiu os dirigentes republicanos do Alaska, durante a sua campanha para prefeita, anos atrás, por seu discurso contra o aborto. Normalmente, os partidos não se envolvem nas eleições municipais do Alaska, por estas não serem partidárias. Mas logo que as notícias sobre os pontos de vista de Palin chegaram à capital, os republicanos locais investiram dinheiro na sua campanha. Diz o investigador Charley James: “Palin dedicou-se à criação de uma máquina que demolisse quem se atravessasse no seu caminho. A boa e piedosa cristã virou do avesso”.
As características religiosas de Sarah Palin têm tudo a ver com a sua escolha para o cargo. A igreja Assembléia de Deus em Wasilla, que ela freqüenta, faz parte de um ramo do movimento dominionista que tinha como um de seus dirigentes Ted Haggard (foto ao lado), de quem falamos anteriormente. O movimento tenta deliberadamente passar despercebido. Por quê?

Dominionismo? o que é isto?
Muitos cristãos pensam, erroneamente, que o reino de Deus irá se manifestar visivelmente no presente. Esse entendimento incentivou a união da igreja com o estado a partir do século IV, aproximadamente, quando o imperador Constantino deu liberdade aos cristãos. A partir daí, o Cristianismo passou a adquirir “poder temporal”, resultando na sua paganização e corrupção, com reflexos até os dias de hoje.
Este conceito – a manifestação visível do reino de Deus, aqui e agora – se tornou conhecido graças a Agostinho de Hipona, em seu tratado “A Cidade de Deus”, que expõe como seria ou deveria ser o reino de Deus na Terra: um reino de paz e harmonia em que a igreja católica seria a mediadora ou representante de Deus e o principal fator de justiça e equidade para a humanidade.
Mas ao contrário, a Bíblia afirma categoricamente que a situação geral tende a se deteriorar. Somente após o retorno de Cristo é que será estabelecido o Milênio, literalmente mil anos em que o próprio Senhor Jesus reinará na Terra a partir de Jerusalém. Ao final desses mil anos Satanás será solto e haverá uma rebelião final, ao que se seguirá o julgamento do Grande Trono Branco.
O ensino de Agostinho se tornou o padrão do ensino católico. Firmou-se a crença de que o Milênio é alegórico ou simbólico, e que o Cristianismo está de fato transformando o mundo, trazendo justiça e paz para a humanidade. Por isso aceita-se que a igreja (católica, obviamente...) influencie clara e abertamente as leis e os governos, apoiando ou derrubando governantes de acordo com a sua conveniência ou interesse de momento. Esta é a história do catolicismo, que gerou a formidável mistura que aí está, e que será a causa final de sua destruição, a sua “prostituição com os reis da Terra” (cf. Apocalipse cap. 17). E agora, por não entender corretamente o plano de Deus para as eras e nem o conceito bíblico do Milênio, a igreja evangélica também cismou de querer influenciar os governos.
Sarah Leslie, antiga dirigente da Direita Cristã, explica o movimento que apoiou Sarah Palin durante a maior parte da sua vida (a “Nova Reforma Apostólica”): “É um descendente direto do movimento da ‘Chuva Serodia’ – também conhecido como ‘Exército de Joel’ ou ‘Manifestos Filhos de Deus’. O principal arquiteto deste movimento durante as últimas décadas é C. Peter Wagner, presidente dos ministérios Colheita Global. Seus ensinamentos de guerra espiritual vêm sendo amplamente difundidos, sendo que uma destacada personagem ligada a este grupo é Ted Haggard” [1].
Ela cita C. Peter Wagner na sua definição da “Nova Reforma Apostólica”: “Desde 2001, o corpo de Cristo esteve na ‘Segunda Era Apostólica’. Estabeleceu-se o governo apostólico/profético da igreja… Começamos a construir a nossa base situando e identificando-nos com os movimentos de intercessão. Desta vez, no entanto, sentimos que Deus quer que comecemos de modo governamental, ligando-nos com os apóstolos da região. Para nós, Deus já se elevou como apóstolo-chave numa das nações estratégicas do Oriente Médio, e outros apóstolos estão a juntar-se. Uma vez que tenhamos os apóstolos no seu lugar, levaremos os intercessores e os apóstolos ao círculo íntimo, e acabaremos por ter o núcleo espiritual que necessitamos para avançar até à recuperação do domínio que, legitimamente, é nosso”. (C. Peter Wagner). Ele afirma que nos EUA há tantas igrejas da Nova Reforma Apostólica que o movimento mundial chega a 100 milhões de pessoas. Apesar disso, o seu impacto passa totalmente despercebido para a maioria dos investigadores fora do próprio movimento.
Bruce Wilson, outro pesquisador familiarizado com movimentos evangélicos, esclarece que essa tal “Terceira Onda” (nome copiado de um livro de Alvin Toffler, economista e futurólogo que trabalha com o conceito da revolução tecnológica) é um clone dos cultos de avivamento da ‘Chuva Serôdia’ dos anos 1950/60, dirigidos, entre outros, por William Branham: baseia-se na idéia de que no fim dos tempos um grupo de cristãos terá poderes sobrenaturais e autoridade sobre a igreja e o mundo. Estes cristãos serão reorganizados sob o Ministério Quíntuplo (apóstolos, profetas, pastores, evangelistas e mestres, de acordo com Efésios 4:11), e a igreja será reestruturada sob o governo de profetas, apóstolos e outros ungidos. A nova geração formará o ‘Exército de Joel’ para combater o mal e recuperar a Terra para Deus” [2]. Os excessos desse movimento foram declarados heréticos em 1949 pelo Conselho Geral das Assembléias de Deus, e voltaram a ser condenados pela Resolução nº 16 em 2000.
Isto tudo constitui o movimento chamado dominionismo.
Sarah Leslie descreve a ideologia do dominionismo: “... o Evangelho da Salvação alcança-se estabelecendo o Reino de Deus como um reino literal e físico na Terra, na era atual. Alguns dominionistas identificam o Reino do Novo Testamento com o Israel do Antigo Testamento para que possam pegar na espada, ou outros métodos de caráter punitivo, para combater os inimigos do seu reino. Os dominionistas ensinam que os homens podem ser coagidos ou obrigados a entrar no reino à força. Relacionam com a Igreja deveres e direitos que, de acordo com as escrituras, apenas pertencem a Jesus Cristo. Isto inclui a crença esotérica de que os crentes podem encarnar em Cristo e funcionar como o seu corpo sobre a Terra para estabelecer o domínio do Seu reino. Põe ênfases desmedidas nos esforços do homem: a doutrina da soberania de Deus é menosprezada” [3].
Leslie também cita “Vengeance is Ours: The Church in Dominion” [A Vingança é nossa: a Igreja do domínio] de Al Gager: “a teologia do domínio baseia-se em três crenças básicas:
I) Satanás usurpou o domínio do homem sobre a Terra através da tentação de Adão e Eva;
II) A Igreja é o instrumento de Deus para recuperar o domínio;
III) Jesus não pode voltar, nem voltará, até que a Igreja tenha recuperado o domínio, e conseguido o controle das instituições governamentais e sociais da Terra”
[4].
Você já leu ou ouviu algo parecido? É possível que sim. Essa onda já chegou às nossas praias. Semana que vem tem mais. E doa a quem doer!
NOTAS:
[1] Sarah H. Leslie, Dominionism and the Rise of Christian Imperialism, em: http://www.discernment-ministries.org/ChristianImperialism.htm.
[2] Bruce Wilson, Sarah Palin's Churches and the New Wave Apostolic Reformation, em: http://endtimespropheticwords.wordpress.com/2008/09/09/sarah-palins-churches-and-the-third-wave/.
[3] Sarah H. Leslie, Op. Cit.