segunda-feira, 14 de junho de 2010

Mais um absurdo:

Festa junina gospel
Outro dia o portal de notícias Gospel + publicou uma matéria polêmica. Era para saber o que os leitores achavam das festas juninas, e se os evangélicos podiam ou não participar. Naturalmente apareceram opiniões extremamente variadas: alguns acham que não tem nada a ver, outros acham que vale tudo, outros ainda vieram com a batida desculpa de que devemos “nos fazer de gregos para ganhar os gregos”, etc.
Há os que entendem as festas juninas como celebrações cristãs. Afirmam que são ligadas a personagens bíblicos como João Batista, Pedro e outros, o que legitimaria tais festas como integrantes do calendário cristão. Posição defendida pela igreja católica, que ensina que “Nossa Senhora [Maria, mãe de Jesus] e Santa Isabel [mãe de João Batista] eram muito amigas. Por esse motivo, costumavam visitar-se com freqüência... Um dia, Santa Isabel foi à casa de Nossa Senhora para contar uma novidade: estava esperando um bebê ao qual daria o nome de João Batista. Ela estava muito feliz por isso! Mas naquele tempo, sem muitas opções de comunicação, Nossa Senhora queria saber de que forma seria informada sobre o nascimento do pequeno João Batista... Santa Isabel combinou que acenderia uma fogueira bem grande que pudesse ser vista à distância. Combinou com Nossa Senhora que mandaria erguer um grande mastro com uma boneca sobre ele. O tempo passou e, do jeitinho que combinaram, Santa Isabel fez. Lá de longe Nossa Senhora avistou o sinal de fumaça, logo depois viu a fogueira. Ela sorriu e compreendeu a mensagem. Foi visitar a amiga e a encontrou com um belo bebê nos braços, era dia 24 de junho. Começou, então, a ser festejado São João com mastro, fogueira e outras coisas bonitas, como foguetes, danças e muito mais!”.
Vemos aqui uma descrição extremamente pueril, justamente para que alcance as crianças.
Mas um gra
nde número de cristãos entende que deve afastar-se das festas juninas mas, ao mesmo tempo abre espaço para a realização de arraiais gospel - festas caipiras evangélicas. Posição defendida por evangélicos neo-pentecostais. Entretanto, é recomendável lembrar as palavras do apóstolo Paulo:
“Portanto, meus amados, fugi da idolatria. Falo como a criteriosos; julgai vós mesmos o que digo. Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, embora muitos somos unicamente um pão, um só corpo. Considerai o Israel segundo a carne; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar? Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou provocaremos zelos no Senhor? Somos, acaso, mais fortes do que ele?” (1 Coríntios 10:14-22).
No texto, Paulo trata da participação dos cristãos em rituais pagãos (Bíblia de Estudo de Genebra, p.1357). Sua convicção é que a idolatria produz uma ligação espiritual - um vínculo com demônios. Para o apóstolo, o problema não era se sujeitar à opressão demoníaca ao comer coisas ligadas a ídolos, mas sim depreciar sua comunhão com Deus, ou seja, agir de modo inconsistente com a aliança com Jesus, e, deste modo, provocar o “zelo” do Senhor (1 Coríntios 10:18-22). Isto pode ser transposto à questão das festas juninas por meio de um argumento de quatro pontos:
- Veneração a santos fere não apenas a recomendação de 1 Timóteo 2:5, mas também Êxodo 20:3-6: é idolatria.
- As festas juninas, ligadas à veneração de santos, são idólatras.
- O cristão, de acordo com 2 Coríntios 10:14, deve fugir da idolatria.
- Portanto, o cristão deve fugir das festas juninas.
Nesta época do ano as escolas, em nome da “cultura", incentivam tais festas nos trabalhos escolares. A criança não tem como se defender e aceita, pois deve respeitar a professora que lhe impõe estes trabalhos, e em alguns casos é até mesmo ameaçada com notas baixas, porque a professora é devota de algum santo, simpatizante ou praticante da religião católica etc. Neste momento quando se mistura folclore e religião, a criança - inocente por natureza - rapidamente se envolve com as músicas, brincadeiras e doces. Aliás, não existiria a festa não fosse a religião, nem a competição entre clubes, famílias ou grupos para realizarem a maior ou a melhor festa junina da rua, do bairro, da fazenda etc. Alguns argumentam que é ruim dizer que uma criança não deve participar dos festejos juninos de sua escola, porque ela não entendera, seria discriminada pelos coleguinhas etc. as não seria melhor os pais cristãs explicarem à criança as razões pelas quais ela não participará da festa junina? Seria mais instrutivo, bíblico e edificante... embora a falta de sabedoria e de coragem talvez nos impeçam de agir assim.
Mas, o que dizer da “alma caipira” que reside em nós, que nos motiva a acender fogueira, assar mandioca e batata-doce e comer bolo de fubá? Qual o problema, por exemplo, de realizar uma noite caipira ao som de “xote santo” e, quem sabe, até brincar inocentemente de quadrilha gospel? Ou criar uma “Festa dos Estados”, com barracas de comidas típicas ou algo semelhante, quem sabe até como estratégia para atrair visitantes?
É que, de fato, a produção de versões gospel das festas juninas não é recomendável. Primeiro, porque o evangelicalismo está saturado de versões gospel: baladas gospel, axé gospel e até o “créu” gospel. Chega de baboseiras! Não fomos chamados a imitar o mundo e sim a transformá-lo (1 João 2:15-17).
Segundo, há o problema da associação. É possível que, ao participar de uma festa junina gospel, sejam feitas associações com o evento original, de origem e significado pagãos; queiramos ou não, festas juninas estão ligadas às crenças católicas. Cristãos sensíveis podem sentir um desconforto inexplicável diante disso. Visitantes interessados nas crenças e práticas evangélicas exigirão explicações mais detalhadas sobre as razões da realização de uma noite caipira “calvinista”.
Sendo assim, é mais adequado considerar as festas juninas gospel entre as coisas que o apóstolo Paulo chama de lícitas, mas inconvenientes e não-edificantes (1 Coríntios 10:23). Nessa questão, pensemos primeiramente nos interesses do corpo de Cristo, e não nos nossos (1Coríntios 10:24). Não se trata de ser contra comer bolo de milho, canjica ou pé-de-moleque. Desfrutemos dessas coisas, porém, na privacidade de nossos lares ou fora do contexto de festas caipiras nos meses de junho e julho. Não porque essas comidas sejam pecaminosas em si, mas para evitar associações indesejáveis.
A Bíblia não prescreve nenhuma festa ligada a profetas ou apóstolos, muito menos a ninguém “canonizado”. Não há espaço para crença em santos mediadores. Segundo as Escrituras, “há um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1 Timóteo 2:5).
Somos livres para participar de festas juninas?
Não. Ao participarmos de tais festas, nos ligamos com a idolatria.
Devemos realizar eventos caipiras gospel?
Devemos participar de tais eventos?
Também não. Não porque haja idolatria envolvida, mas porque são associações indesejáveis. O ideal é que fortaleçamos nossa identidade cristã, bíblica, desvinculando-nos da aparência do mal (1 Tessalonicenses 5:22).
Os que defendem que os cristãos devem participar dessas festas dizem que Jesus “andava com bêbados, prostitutas e pessoas do povo”, que transformou água em vinho e portanto aprovava festas populares. Até em baladas Jesus ia, diz a “pastora” da bolha de neve. Argumentos bastante inconsistentes, pois, de fato, Jesus foi de enterro a casamento, mas não há nenhum relato dEle em festa de Moloque ou Baal, ou se preferirem, Júpiter ou Vênus, mesmo com o louvável intuito de pregar.
Nunca.
Paulo e Barnabé não procuraram participar de festas “populares”, mas quando confrontados com uma situação dessas... (Atos 14):
“14 Quando, porém, os apóstolos Barnabé e Paulo ouviram isto, rasgaram as suas vestes e saltaram para o meio da multidão, clamando
15 e dizendo: Senhores, por que fazeis estas coisas? Nós ... vos anunciamos o evangelho para que destas práticas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar, e tudo quanto há neles;
16 o qual nos tempos passados permitiu que todas as nações andassem nos seus próprios caminhos.
17 Contudo não deixou de dar testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos chuvas do céu e estações frutíferas, enchendo-vos de mantimento, e de alegria os vossos corações.
18 E dizendo isto, com dificuldade impediram as multidões de lhes oferecerem sacrifícios”.
Essa posição deve ser a defendida pelos cristãos bíblicos. "Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos...não podeis participar da mesa do Senhor e da mesa de demônios" (Atos 15:29).
“Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o” (l Reis 18:21).
“Odeio, desprezo as vossas festas” (Amós 5:21).
E, de mais a mais, João Batista nem mesmo nasceu em junho (veja aqui: http://doa-a-quem-doer.blogspot.com/2008/12/quando-nasceu-jesus.html). Todo mundo – inclusive os “devotos” do “santo” – já está careca de saber que a data de 24 de junho faz parte das festividades solstício de verão no hemisfério norte (o dia mais longo do ano), desde a mais remota antiguidade pagã. E tem gente querendo levar isto para dentro das igrejas...
Doa a quem doer.