segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

As 7 igrejas de Apocalipse (V)

Já estudamos bastante sobre a profetisa Jezabel. Agora vamos ver um outro profeta que se lhe assemelha, e tem até uma doutrina própria: Balaão. O nome significa “devorador”, segundo a Enciclopédia Bíblica de O. S. Boyer (Ed. Vida, 21ª edição, pg. 93). Era profeta, disso não resta dúvida, pois o que ele profetizou se cumpriu. Sem ter conhecido Abraão, repetiu o que Deus dissera ao patriarca: confira Números 24:9 com Gênesis 12:3. O verso 17 de Números 24 é claro, e também 0 20. Não obstante o seu o seu dom profético, Balaão era ganancioso; séculos depois, Pedro explicou que ele estava de olho no dinheiro, comparando-o aos obreiros corruptos de sua época (II Pedro 2:12-19). E olha que antes Balaão havia recusado uma fortuna para amaldiçoar a Israel! O problema é que ele profetizou em nome de Deus, mas também era adivinho e vidente idólatra. Números 22:6,7 diz que Balaque tinha fé nas pragas de Balaão, e que levou a ele o valor combinado pelos “encantamentos”. Era uma espécie de “benzedeira”. O anjo de Deus disse que o caminho dele era perverso (v. 32).
Ao que parece, Balaque deve ter aumentado a oferta, pois Pedro diz que “Balaão amou o prêmio da injustiça” (II Pedro 2: 15), apesar de ter recusado a primeira negociação. Ele teria ensinado Balaque a colocar tropeços diante dos filhos de Israel. Mário Persona diz que “foi a contragosto que Balaão profetizou bênção para Israel”, e cita Números 24:15-17: “Então proferiu a sua parábola, e disse: Fala Balaão, filho de Beor, e fala o homem de olhos abertos; Fala aquele que ouviu as palavras de Deus, e o que sabe a ciência do Altíssimo; o que viu a visão do Todo-Poderoso, que cai, e se lhe abrem os olhos. Vê-lo-ei, mas não agora, contemplá-lo-ei, MAS NÃO DE PERTO [grifo acrescentado]. Continua dizendo que “o versículo 17 é a sentença de condenação que Balaão foi obrigado a proferir contra si próprio. Ele ficou ciente de que veria a Deus, porém não de perto. Compare com Lucas 16:23, na qual Abraão é uma representação da presença de Deus (e no inferno [hades], ergueu os olhos, estando em tormentos, e VIU AO LONGE Abraão, e Lázaro no seu seio’) [grifo acrescentado].
Isso nós só podemos deduzir, pois o cap. 24 de Números termina com Balaão e Balaque indo cada um para o seu caminho, e parece que a história termina aí. Mas o cap. 25 começa com os filhos de Israel se prostituindo com as moabitas e sacrificando aos deuses delas. A razão disto só descobrimos em 25:17-18 e 31:15,16, que nos mostram que quando os homens de Israel pecaram, logo após Balaão ter profetizado bênçãos, foi pelo conselho do mesmo Balaão ao rei Balaque. Que conselho foi esse?
Balaão deu a Balaque uma estratégia para desviar Israel do caminho e assim talvez impedir que Israel guerreasse contra Moabe. Os hebreus ficariam distraídos e deixariam os moabitas em paz: era só misturar os filhos de Israel com as filhas dos moabitas. A Bíblia nos conta que os israelitas não só fizeram sexo com as moabitas, como também seguiram os seus deuses.
Quais eram esses “deuses moabitas”, a quem os hebreus adoraram, seguindo a “doutrina de Balaão”? Os moabitas eram uma nação irmã dos amonitas (Gênesis 19:37,38) e ambas tinham parentesco distante com Israel, pois Ló, pai de Moabe e Amon, era sobrinho de Abraão. Tanto moabitas, como edomitas e amonitas temeram quando Israel saiu do Egito e se aproximou de Canaã. A religião moabita era politeísta. Em Números 25:3 e noutras passagens, Baal-Peor é mencionado provavelmente como uma deidade moabita. A deusa Ashtar (“Astaroth”, “Asera”) também é mencionado na Pedra Moabita e na coluna de Balu‘a. II Reis 3:27 confirma que os moabitas ofereciam sacrifícios humanos. Havia outras divindades como Camós (Jeremias 48:13).
Vemos, portanto, que Baal provavelmente tenha sido adorado pelas moabitas que seduziram os israelitas em Peor. O conselho, ou a doutrina de Balaão, era que os israelitas fossem seduzidos pelas mulheres moabitas – tanto sexualmente como religiosamente (25:1,2), e se voltassem para Baal, como faria Jezabel séculos mais tarde. Cometeram adultério físico e espiritual, e nem ligavam mais para o que os outros dissessem (25:6). Isto é confirmado por Apocalipse 2:14. É importante notar que a idolatria e a prostituição (imoralidade) estão juntas. Ora, não foi exatamente  isso que Jezabel também fez, no tempo do profeta Elias, conforme vimos nas semanas passadas?
Uma das primeiras menções de Baal na Bíblia é esta de quando Balaque levou Balaão a Bamote-Baal (que significa “altos de Baal”) para ver o povo de Israel. O culto a Baal era marcado por uma devassidão que envergonharia Sodoma e Gomorra. Todos os anos, sua morte e a ressurreição eram repetidas simbolicamente, já que a passagem da seca para a estação das chuvas era explicada como a ressurreição do deus, e com a idéia do sêmen sagrado fecundando a terra em forma de chuva, os cultos centravam-se na atividade sexual. Para despertar Baal a se acasalar com Astarote, entregavam-se a orgias. A religião cananéia requeria o serviço de “prostituição sagrada” de homens e mulheres disponíveis como sacerdotes. Logo, a pessoa para adorar a Baal tinha que copular com um ou vários desses sacerdotes. Isso é visto no livro de Oséias, onde a esposa do profeta não era apenas uma prostituta, mas adoradora de Baal. “Naquele dia, diz o Senhor, ela me chamará: Meu marido e já não me chamará: Meu Baal. Da sua boca tirarei os nomes dos baalins, e não mais se lembrará desses nomes” (Oséias 2:16-17).
O termo “Baal” aparece em Romanos 11:4, e no texto original em grego é precedido pelo artigo feminino he. Comentando sobre isto, John Newton escreveu num ensaio sobre o tema, onde afirma: “Embora em hebraico ele seja do gênero masculino [hab·Bá·ʽal], o senhor, todavia Baal é chamado [he Bá·al], = a senhora, na Septuaginta; Oséias 2:8; Sofonias 1:4; e no Novo Testamento, Romanos 11:4. Na adoração licenciosa deste andrógino, ou deus de dois sexos, os homens, em certas ocasiões, usavam vestimenta feminina, ao passo que as mulheres se apresentavam em traje masculino, brandindo armas.” — Ancient Pagan and Modern Christian Symbolism (Simbolismos Pagãos Antigos e Cristãos Modernos), de T. Inman, 1875, p. 119 (link). Nem é preciso dizer nada sobre a homossexualidade...
Como vimos, Jezabel reintroduziu em Israel o culto a Baal, com todas as suas derivações, ou seja, a idolatria em si e a promiscuidade sexual, que era parte daquele culto. É interessante notar como as igrejas de Apocalipse, assim como o povo de Israel, vira e mexe caem nas mesmas faltas. A Éfeso, Jesus disse que ali havia “nicolaítas” (Apocalipse 2:6), que já estudamos aqui e aqui. Esses mesmos picaretas estavam em Pérgamo também (v.15). E Jesus repreende Tiatira porque ela tolera Jezabel, falsa profetisa, que “ensina e seduz os meus servos a se prostituírem e a comerem das coisas sacrificadas a ídolos” (v. 20). E se voltarmos a Pérgamo, notamos que ela abrigava os que seguiam a “doutrina de Balaão”, que também era “comerem das coisas sacrificadas a ídolos e a se prostituírem” (v. 14).
Como se vê, Jezabel e Balaão se conectam em dois pontos: ambos eram profetas (ela, de Baal, e ele até chegou a profetizar em nome de Deus, mas se corrompeu depois); e ambos induziram o povo de Deus a “comerem das coisas sacrificadas a ídolos e a se prostituírem”. Isso é chamado de “doutrina de Balaão”.
“Ah, mas na minha igreja não tem esse negócio de prostituição e ídolo não, misericórdia”... será que não? Os adoradores de Baal acreditavam que, com seus rituais religiosos, estimulavam os deuses a seguir o mesmo modelo. Era uma espécie de magia simpática, realizada na esperança de que os deuses imitassem seus adoradores, repetindo seus atos e assim garantissem prosperidade.
Hoje vemos nas igrejas ditas evangélicas os famigerados “atos proféticos”. Como se sabe, trata-se de “ações realizadas por homens, profetas de Deus com determinado sentido profético... sinais que apontam para o reino espiritual e que tem conseqüências no reino físico [sic]... minha ação profética tem alto valor no reino do espírito que se expressa no mundo físico”, os próprios adeptos declaram. Como aqui – onde o autor do texto declara ter como modelo, dentre outros, Tereza de Calcutá (lembra do que falei sobre a infiltração católica no meio evangélico, que não mais se fala “mal” do catolicismo, mas têm-no como exemplo?). E também aqui, aqui, aqui temos explicações, justificativas até dicas de “ferramentas criativas” para “atos proféticos”. Cuidado, alguns dão náusea.
Não é difícil relacionar os “atos proféticos” com a macumba. Basta compararmos as duas metodologias. Um trabalho de macumba nada mais é do que o homem valendo-se de ritos e objetos, a fim de manipular a ação da divindade.
Jostein Gaarder, na obra “O Livro das Religiões” (Cia. Das Letras), descreve o que é “magia”: “... o ser humano que se vale de ritos mágicos está tentando coagir as forças e potências a obedecer à sua ordem – que com freqüência consiste em atingir finalidades concretas. Desde que os rituais mágicos sejam realizados corretamente, o mago acredita que os resultados desejados decerto ocorrerão, por uma questão de lógica”.
Se você trocar “mago” por “pastor”, “apóstolo”, ou mesmo “levita”, obterá um retrato fiel da espiritualidade dita evangélica da atualidade. Atos proféticos e pontos de contato (como sabonetes, chaves, e rosas ungidas) possuem a mesma utilidade dos objetos dos rituais de magia. Mensagens enviadas ao “mundo do espírito”, a fim de que o “pastor” e o “crente” consigam conquistar alguma coisa desejada no “mundo físico” – mesmo que seja com objetivos elevados, como resgatar a cidade e a nação. Ato profético, portanto, é um meio de o homem [tentar] manipular o mundo espiritual, inclusive a ação dos demônios.
O pastor vira um xamã, revestindo-se da mesma mística e dos mesmos poderes que antes eram propriedade dos feiticeiros e “pais de santo”. Os crentes, assim como os que buscam os terreiros, transformaram-se em adoradores mercenários, a procura de um “cristo talismã”, que lhes desamarre os caminhos.
Veja você se não é a mesma coisa que faziam os adoradores de Baal. Praticavam certos atos achando que seu deus os imitaria e repetiria essa pantomima patética! Quando fazemos “atos proféticos” visando alterar os acontecimentos, para “provocar nos lugares celestiais o que fazemos na terra”, estamos fazendo um culto pagão, que busca “atrair a divindade”.
Os homens tentam controlar as divindades fazendo oferendas para que elas lhes atendam e lhes abençoem, quando Deus faz isso graciosamente. Em busca de prosperidade, oferecemos um sacrifício – dinheiro, por exemplo. Depositamos parte da renda na esperança de receber de volta tudo multiplicado, num “princípio da semeadura” totalmente desvirtuado da Palavra de Deus. Quando ofertamos dinheiro para ter prosperidade como recompensa, usando erradamente o “princípio da semeadura”, estamos na verdade fazendo uma oferenda a Baal.
Como os seguidores de Baal, querem que o seu deus lhes dê prosperidade, que mande “chuva” do céu mediante essa troca. O Deus de Elias deu a chuva, sem precisar de nada em troca para ser aplacado, sem ser subornado ou comprado. Baal, que exigia sacrifício para atender aos seus devotos, foi desmascarado como um ídolo vulgar, pois era incapaz de resolver o problema e responder os “atos proféticos” feitos pelos seus sacerdotes e adoradores. É importante ressaltar que Baal traz prosperidade, não o odiado Mamom (que é a riqueza). Podemos rejeitar Mamom, mas cultuamos Baal todo domingo. E quem ensina isto é a doutrina de Balaão e a falsa profetisa Jezabel, doa a quem doer.

Calma, só falta mais uma. Tá acabando. Na semana que vem.

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