Um outro ponto interessante é que abundam na Internet citações atribuídas aos mais diversos filósofos, pensadores e intelectuais, que nunca disseram tais frases. Em anos eleitorais então a coisa ferve: o que aparece de pensamentos de Sêneca, Arnaldo Jabor, Luiz Fernando Veríssimo, até de Marx, vaticinando sobre a corrupção no governo, é brincadeira. Eu costumo dizer que nem se Einstein tivesse vivido mais uns 30 anos seria capaz de produzir tantas frases a ele atribuídas na Internet.
A respeito da Bíblia, é a mesma coisa. As pessoas dizem coisas sobre a Bíblia sem nunca tê-la lido, ou no máximo conhecerem ao menos alguns trechos. O seu ralo conhecimento das Escrituras vem da revista Veja, da Superinteressante e do Discovery Channel.
Sabemos que, embora muitos não
aceitem, assim como Deus é real o Diabo também é, e como antagonista e inimigo,
procura de todas as formas ganhar adeptos para o seu exército. Uma dessas
formas é justamente espalhar lendas e mitos SOBRE a Bíblia. Assim fica fácil para o tentador lançar sementes de
dúvidas travestidas de filosofia, de humanismo e de lógica. Como essas:

Outro erro cabeludo em que quase todo mundo
cai é “os Três Reis Magos”. Mas na verdade, esses personagens nunca foram
referidos como reis pela Bíblia e nada indica que eles eram três. A única
referência ao número três é o número de presentes que eles carregavam. Leia
sobre isso aqui.
E assim caminha a humanidade, atribuindo à Bíblia
todo tipo de erro e mistérios que de fato nem estão lá. Antes de mais nada, é
preciso anotar que a Bíblia não é um livro científico, por isso há que se ter
sabedoria para discernir o que é literal e o que é alegórico. Por exemplo,
dizer que “o sol parou” - parou do ponto de vista do escritor. Mas e se foi a
Terra que parou? Que alguma coisa parou, não há dúvida. Aqui o nós temos que
aprender é que Deus é poderoso o bastante para interferir nas leis da física - que
foram criadas por Ele mesmo, afinal. Mas dizer que “a Bíblia contém erros porque
o sol não gira em torno da Terra”, é procurar chifre em cabeça de cavalo... Que,
aliás, é o que esse pessoalzinho intelectualóide gosta de fazer.
Só para esclarecer, quem crê que a Bíblia
diz que o Sol gira ao redor da Terra é uma besta quadrada, porque em nenhum
lugar do texto sagrado se afirma isso. Todo mundo diz que “o sol nasce a tal
hora”, e “se põe em tal lugar”, e nem por isso é ridicularizado. Por
outro lado, muito antes de Galileu, Newton, Tycho-Brahe, Kepler, Copérnico,
Huble e muitos, muitos outros, a Bíblia já dizia que Deus
“estende o norte sobre o vazio; suspende a terra sobre o nada”
(Jó 26:7); e que Ele “está assentado sobre a redondeza da terra,
cujos moradores são para ele como gafanhotos” (Isaías 40:22).
Se isto não significa que o planeta paira no
vácuo do espaço, e que não é redondo, então não sei mais o que é. Alguns dirão, fazendo caras e bocas de sábios, que a palavra “redondeza” não quer dizer “globo”, mas sim “círculo”,
e para isto fazem extensos arrazoados onde misturam conceitos de religiões
antigas, textos poéticos da própria Bíblia e afirmações pseudo-científicas,
para dizer que a Bíblia não diz o que diz e que diz o que não diz. Ou seja, criam
mitos SOBRE a Bíblia.

Chamam de erros da Bíblia coisas que nem mesmo
estão na Bíblia.
Como o “código da Bíblia”. Esse “código”, também
conhecido como o código da Torá, seria um grupo de mensagens supostamente
existentes no texto bíblico, que se devidamente decodificadas dariam informações
proféticas e previsões das mais diversas. O estudo e os resultados desta mensagem
cifrada tem sido popularizada por livros como “O Código da Bíblia” e “O Código
Da Vinci”. O principal método pelo qual se acredita encontrar estas “profecias” é o “Equidistant
Letter Sequence” (ELS). Para se obter uma ELS em um texto, é
necessário escolher um ponto de partida (em princípio, qualquer letra) e então
é dado um salto numérico entre elas, também livremente e possivelmente
negativo. Assim é possível separar essas letras que, depois de agrupadas (apenas as selecionadas) formariam as tais previsões. Defensores dos códigos da Bíblia geralmente usam textos da Bíblia hebraica. O uso e a publicação de “previsões”, baseado em
códigos da Bíblia, principalmente com base no trabalho do jornalista Michael
Drosnin, teria revelado o assassinato do primeiro-ministro israelense Yitzhak
Rabin. Interessante é que geralmente os “profetas” deste método anunciam suas
previsões depois que elas aconteceram. Como é que esse código hoje é tido como
anunciando o assassinato de Kennedy, mas nada diz sobre Barack Obama ou Bin Laden, por
exemplo?
A origem de toda essa mixórdia está num sistema
inventado pelos escribas judeus para evitar erros nas cópias manuscritas
(aliás, “erro
na Bíblia”
é outra falácia que agora vamos desmontar).

Dentre as exigências que os escribas deviam
seguir em relação às Escrituras, algumas são:
- o rolo de pele (pergaminho) onde a cópia seria
feita deveria conter um certo número de colunas, o qual deve se manter igual
por todo o manuscrito
- o comprimento de cada coluna não poderia ser
inferior a 48 nem superior a 60 linhas, e a largura deveria ser de 30 letras
- devia-se primeiramente traçar as linhas de toda
a cópia, e se 3 palavras fossem escritas sem linha, a cópia era inutilizada
- devia-se fazer a cópia a partir de uma cópia
autêntica, da qual o transcritor não podia se desviar de modo algum, sendo
proibido escrever qualquer palavra ou letra de memória,
isto é, sem o escriba tê-la visto no códice diante de si
- entre cada consoante devia haver o espaço de
um fio de cabelo ou de uma linha
- entre cada capítulo devia haver a largura de 9
consoantes, e entre um livro e outro o espaço de 3 linhas
- o quinto livro de Moisés (que fecha o
Pentateuco) devia terminar exatamente no final de uma linha
- era contado o número de vezes que cada letra
aparecia em cada livro, assinalada a letra que ficava exatamente no meio do
Pentateuco, e a que ficava exatamente no meio da Bíblia toda; e várias outras
regras que tornavam o trabalho de copiar as Escrituras virtualmente à prova de
erros, já que depois disso tudo ainda havia a revisão feita por três
especialistas. Os rolos de pergaminhos fora das especificações eram condenados
a ser enterrados ou queimados, assim como os que ficavam gastos pelo tempo e a
tinta começava a desaparecer. É por isso que não existem cópias muito antigas,
o que também evitava a má interpretação originada de uma leitura mal
feita, equivocada, ou mal-intencionada.
Assim, dizer que “a Bíblia tem erros” é mais um mito SOBRE a
Bíblia.
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